Jurandir Silva: “Sem a classe trabalhadora e sem a participação do povo negro na invenção dos doces, não tinha nem doce nem Feira”
O vereador de Pelotas Jurandir Silva (PSOL) passou o dia na Fenadoce nesta quinta-feira (16/06) e compartilhou um resumo da visita com algumas reflexões.
18 jun 2022, 12:03 Tempo de leitura: 4 minutos, 0 segundosO vereador de Pelotas Jurandir Silva (PSOL) passou o dia na Fenadoce nesta quinta-feira (16/06) e compartilhou um resumo da visita com algumas reflexões. Confira o texto na íntegra:
A turma que nos acompanha aqui já sabe que teve um sorteio na Câmara, entre parlamentares, para definir quem ficaria responsável pelo estande da Instituição na FENADOCE, e o dia em que fomos sorteados foi ontem, 16-6.
Cheguei na Feira junto com o Júlio Domingues. Logo fomos orientados pelos trabalhadores do estacionamento como proceder, onde estacionar, onde pagar. Entramos em uma fila enorme, com centenas de trabalhadores, passamos pela bilheteria e pelas catracas, onde também fomos muito bem orientados pelas trabalhadoras.
Chegando no estande, a primeira coisa a fazer foi dialogar com a nossa equipe de trabalho e com os trabalhadores da TV Câmara, repassando o plano de atividades do dia. De brinde, todo mundo que estava no estande ganhou um docinho de Pelotas (eu comi dois quindins). Os docinhos obviamente nós compramos em uma das bancas das doceiras, cheinha de trabalhadoras.
Na rua do doce havia uma belíssima apresentação, e quando voltei para o estande apareceu o Rodri, um trabalhador da Cultura, responsável por animar (e como anima o Joaquim né) a Festa.
Logo em seguida dei uma passadinha na Estância para pegar erva mate e água quente, porque convenhamos isso eu não podia deixar de fazer, e lá estavam os trabalhadores representantes da Erva Mate Buena.
Voltamos para o estande para tentar promover a nossa roda de conversa, que tinha como tema gerador a participação da população negra na Cultura de Pelotas, com as professoras Daiane Mollet e Tirza Medeiros. Errei em achar que daria para promover exatamente uma roda de conversa ali no espaço, mas a gente conversou sim, e bastante.
Conversaram Daiane e Tirza com as Baronesas da FENADOCE, também trabalhadoras, justamente sobre o tema que propunhamos para a nossa roda de conversa. Ouvi um bom bocado. Destas estudiosas, as cinco, ouvimos que adicionar gema de ovo, côco e nozes nos doces foi ideia e responsabilidade do povo negro escravizado nesta região. Agora imagina o que seriam os doces de Pelotas sem gema de ovo, nozes e côco? Talvez nem tivesse doce, e sem doce não tem FENADOCE né.
A partir das 18 h e 30 min tivemos um momento de exposições dos livros dos trabalhadores da escrita, a própria Daiane Mollet com o seu livro “O Litoral Negro do Rio Grande do Sul”, e o Cesar Lascano com o seu Contos da Arquibancada. Vocês podem conhecer o livro da Daiane fazendo pedidos pelo e-mail claudiamolet@yahoo.com.br e o livro do Cesar pela rede social do Contos da Arquibancada.
Ali pelas 20 h eu já estava meio exausto pelo barulho da Feira. É bastante gente circulando. E fiquei pensando muito em todo mundo que está ali trabalhando durante todos os dias da Feira, com aquele barulho permanente.
Mesmo cansado insisti com a turma para a gente dar uma passada na Feira da Agricultura Familiar, que funciona há alguns anos dentro da FENADOCE. Lá estavam os trabalhadores do campo, com queijos, vinhos, hortaliças, doces, enfim, uma bela diversidade. Peguei um vinho e um suco da vinícola Nardello.
E assim, “resumidamente em um textão”, foi o nosso dia na FENADOCE.
Chamo a atenção para o fato de que sem a classe trabalhadora e sem a participação do povo negro na invenção dos doces, não tinha nem doce nem Feira.
É bem provável que alguém pode pensar e até vir aqui comentar que sem os empresários também não tem Feira. Hoje em dia em rede social não dá pra duvidar de nada, então eu sequer duvido que alguém possa vir aqui dizer que sem os senhores de escravos não teria escravos, e que portanto estes, os senhores, também são importantes na história do doce de Pelotas.
Acontece que aqui nós temos lado. E o nosso lado é o dos trabalhadores. A história que contamos é a história dos trabalhadores. Outros que contem as suas histórias. Normalmente eles têm mais audiência que nós, inclusive. E é justamente por isso que a gente insiste.
A FENADOCE não existiria sem trabalhadoras e trabalhadores. Sem chance. Deveria inclusive ser um espaço mais democrático e acolhedor. Mas isso é disputa, e temos de seguir disputando.
📸 Gabriel Xavier e Mateus Oliveira
Bônus, sugestão de leitura: baixar gratuitamente “Nós cultuamos todas as doçuras”: as religiões de matriz africana e a tradição doceira de Pelotas – 2ª edição
Marília Floôr Kosby, neste link: https://www.editorafi.com/174doceira