Evento conjunto de partidos de esquerda inicia processo de unidade para eleições de 2024 em Porto Alegre

. Intitulado Porto Alegre Sim, o ato político reuniu as pré-candidatas a prefeita Luciana Genro (PSOL), Maria do Rosário (PT) e a pré-candidata a vice Tamyres Filgueira, com mediação dos presidentes municipais dos partidos, Roberto Robaina (PSOL) e Laura Sito (PT).

25 jan 2024, 14:32 Tempo de leitura: 5 minutos, 23 segundos
Evento conjunto de partidos de esquerda inicia processo de unidade para eleições de 2024 em Porto Alegre

Os partidos da federação PSOL-Rede e PT-PCdoB-PV realizaram seu primeiro evento em busca da unidade nesta quarta-feira (24), na Lomba do Pinheiro, para debater com a população a construção de um plano de governo. Intitulado Porto Alegre Sim, o ato político reuniu as pré-candidatas a prefeita Luciana Genro (PSOL), Maria do Rosário (PT) e a pré-candidata a vice Tamyres Filgueira, com mediação dos presidentes municipais dos partidos, Roberto Robaina (PSOL) e Laura Sito (PT).

Robaina se referiu ao momento como um “processo histórico” e traçou críticas à gestão de Melo, destacando os problemas enfrentados por centenas de milhares de pessoas após o temporal. “Houve essa tragédia em que faltou luz, água, e a administração municipal se mostrou desastrosa. Tivemos, além de tudo, a prisão da ex-secretária de Educação do governo Melo, de duas das suas principais assessoras e do empresário que fraudou a prefeitura de Porto Alegre”, afirmou.

A precarização dos serviços públicos foi evidenciada após o temporal, ressaltou Laura Sito. “Vivemos uma falência de 20 anos de um projeto de sucateamento da cidade, de destruição do bem-viver, da dignidade humana”, criticou. A presidente municipal do PT explicou que o processo de unidade está sendo iniciado pela construção programática, com diálogos nas periferias da cidade, começando pela Lomba.

O objetivo do encontro foi criar subsídios para compor o programa de governo, em um esforço de grande unidade. A ideia foi ouvir os moradores da comunidade, que já haviam se organizado e escolhido representantes para levar as principais pautas da região. Os partidos realizaram o evento, que ocorreu no Centro de Promoção da Criança e do Adolescente, em parceria com o Conselho Popular da Lomba do Pinheiro.

“Para nós o mais importante é ouvir vocês. Nós começamos a fazer esse programa juntos e juntas se escutando. Vamos buscar as soluções em comum, para que a comunidade da Lomba não viva todo ano a falta de água. Porque falta não só água, falta planejamento e investimento”, colocou Maria do Rosário.

Tamyres relatou ter passado por inundações em casa, falta de luz e de água ao longo de sua vida, e compreender as demandas da população nesse sentido. “Existe sim o racismo ambiental que tanto a gente fala, porque quem mais sofre nessas horas é o povo pobre e trabalhador. Melo fez um discurso dizendo que quem não está preparado para passar por crises não deve ocupar a cadeira de prefeito. Realmente, ele não está preparado para estar à frente da prefeitura e responder à altura as demandas do nosso povo”, ponderou.

Unidade é inédita em Porto Alegre

Os partidos de esquerda nunca estiveram juntos desde o primeiro turno em Porto Alegre, apontou Luciana Genro. “Eu e a Rosário não estamos aqui para disputar uma com a outra, mas para somar uma com a outra. É fundamental garantir que a gente tenha um programa que sirva para despertar o povo de Porto Alegre para a necessidade de se organizar a lutar para mudar a cidade”, apontou.

A deputada e presidente estadual do PSOL destacou que os acontecimentos recentes demonstram que Melo não sabe cuidar da cidade. “E ainda é um governo que rouba e deixa roubar, é o que vimos na CPI da Educação. Robaina foi retirado da relatoria na Câmara de Vereadores porque não queriam deixar aparecer o que estava acontecendo na Smed. E apareceu mesmo assim, pelo trabalho da polícia”, acrescentou Luciana Genro, criticando também as privatizações promovidas por Melo.

Demandas da comunidade

Os representantes da comunidade da Lomba trouxeram pedidos de mais investimentos na educação, com mais valorização dos professores, concursos e inclusão para as crianças com deficiência. Na área da saúde, foi mencionada a necessidade de se construir novos postos na Lomba e de se acabar com as terceirizações. Da mesma forma, a assistência também está deixando a desejar, especialmente com a falta de um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) na Lomba do Pinheiro.

Maria Gorete, que foi trabalhadora da Carris, pediu o fim das privatizações e afirmou que Melo “chegou para acabar com a Carris”. Leonardo, do Movimento dos Atingidos por Barragens, também abordou a privatização da luz e da água, pedindo que a tarifa social da luz seja efetivamente implementada na cidade. Rafael Cabral, da ocupação Terra Vista, questionou a especulação imobiliária, relatando que a prefeitura quer vender o terreno da ocupação para grandes construtoras. “Por que não pode vender para a cooperativa, para o povo que precisa?”, indagou.

Ex-diretores do Dmae criticam privatização

A importância do saneamento básico e de manter o serviço público foi destacada por Guilherme Barbosa, que foi diretor-presidente do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae). “O saneamento tem a ver com saúde pública. Onde se trata esgoto temos muito menos doenças. E o poder público tem a obrigação de garantir água e saneamento pras pessoas. Mas Melo quer privatizar o Dmae, que sempre foi considerado um dos melhores do Brasil”, criticou.

Elisandro Oliveira, que também esteve à frente do Dmae, também defendeu a continuidade do serviço público. “O Dmae é uma autarquia e garante que os recursos do saneamento sejam investidos no saneamento”, disse, classificando como “criminoso” o argumento de que é necessário privatizar o serviço.

Apenas o primeiro evento

O evento na Lomba do Pinheiro foi o primeiro de uma série que as federações pretendem realizar para elaborar o plano de governo. “É a participação popular que vai nos dar potência para construir Porto Alegre”, afirmou Luciana Genro. “A gente não está visitando a periferia de Porto Alegre, a gente nasceu como vida política e representatividade aqui, na comunidade”, definiu Maria do Rosário.

O ex-prefeito Raul Pont abordou o histórico de participação popular de Porto Alegre e o desmantelamento, por parte dos governos neoliberais, do Orçamento Participativo. “Queremos firmar o compromisso de devolver à população o direito de decidir o orçamento junto com a prefeitura”, garantiu.

Também se manifestaram a deputada federal Reginete Bispo, o ex-candidato a prefeito pelo PV Montserrat Martins e o vereador Carlos Comassetto.